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Quando o branco não significa paz

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A marcha comemorativa da independência polaca, realizada em Varsóvia no passado dia 11 de Novembro, organizada por grupos de extrema-direita, juntou cerca de 60 000 pessoas, entre as quais nacionalistas extremistas polacos, mas também representantes de grupos fascistas italianos, húngaros e eslovacos, unidos sob o mote “Queremos Deus”, expressão de uma antiga canção religiosa polaca. As palavras de ordem revelaram-se, de forma bastante explícita, racistas e xenófobas, apelando ao renascimento de uma “Europa branca”. O facto de terem estado também presentes cidadãos com pouca ou nenhuma afiliação a grupos nacionalistas ou de extrema-direita é bastante significativo. Haverá uma aceitação tácita do discurso nacionalista radical? Ter-se-ão os cidadãos polacos sentido representados naquelas faixas e bandeiras?

O Presidente Andrzej Duda condenou expressamente o “nacionalismo doentio” exibido pelos participantes, ao contrário de outros membros do seu partido, como o Ministro do Interior, ou o canal público de televisão TVP, que saudaram os manifestantes com admiração pelo patriotismo demonstrado. A Polónia, actualmente governada pelo PiS (Lei e Justiça), um partido populista e nacionalista de direita, que foi já um pilar de unidade da União Europeia, sendo a reeleição de Donald Tusk para a Presidência do Conselho Europeu disso exemplo, é agora um símbolo do crescimento da extrema-direita na Europa. O discurso de Donald Trump na sua recente visita à Polónia, quando apelou à defesa dos valores cristãos e alertou para os “perigos” do Este e do Sul que a Europa enfrenta, ou o apoio que a Rússia tem oferecido a grupos de extrema-direita europeus, unidos na sua hostilidade perante a União Europeia, são exemplos de ingerências políticas que expectavelmente terão encorajado os manifestantes. A desunião do Ocidente na reprovação da ascensão destes movimentos extremistas e a passividade perante as movimentações políticas dos EUA e da Rússia poderá conduzir à erosão acelerada do plácido consenso em que vivemos há décadas.

Todavia, se os cerca de 1400 pedidos de asilo que a Polónia recebeu nos últimos anos não justificam, de forma alguma, o activismo xenófobo e a retórica anti-imigração, num país que é, de resto, bastante monocultural, já a política de fronteiras abertas de Merkel é um problema para muitos alemães. O AfD (Alternativa para a Alemanha), partido da mesma família política da Frente Nacional francesa, do Partido da Liberdade austríaco ou do PVV holandês, beneficiou claramente da hipostasia que a questão dos fluxos migratórios teve nestas últimas eleições. Catapultado para o lugar de segundo maior partido da oposição no Bundestag, o AfD obteve 12,6 % dos votos, depois de uma campanha eleitoral marcada por cartazes e slogans islamofóbicos e misóginos, reminiscentes de um discurso propagandístico nazi que encorajava as mulheres a produzirem crianças alemãs e a celebrar a domesticidade maternal.

No Vision Europe Summit, realizado em Turim nos dias 14 e 15, o debate desenrolou-se em torno do tema da globalização. Fenómenos como o Brexit, o avanço do nacionalismo e a expansão da extrema-direita na Europa não puderam ser evitados. O processo de integração europeia e a globalização serão, talvez, e paradoxalmente, o maior travão e a maior causa de crescimento do nacionalismo na Europa, sendo ambos estes fenómenos percebidos por alguns como corrosivos da economia e da identidade nacional. A perda de soberania e os fluxos migratórios massivos são vistos como descaracterizadores da política e da cultura nacionais. O nacionalismo extremista é também uma reacção à integração europeia. Talvez uma outra integração seja urgente, integração essa que não se fará certamente contra o nacionalismo, uma das faces do nosso liberalismo político desde há duzentos anos, mas incorporando-o, extirpando-o deste carácter xenófobo, racista e perigosamente bélico.

Posted by Maria Teresa Mameda, Universidade NOVA de Lisboa - Lisboa

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